O escritor divinopolitano e Presidente da Academia Divinopolitana de Letras, Flávio Ramos, nos entrega uma obra primorosa. Com uma prosa quase poética, o autor demonstra que cada palavra foi pensada e escolhida com esmero para compor o texto com beleza, ritmo e poesia.
O romance histórico “Perfume de Sangue” mistura ficção e realidade com ares de suspense e fortes doses de sedução. Personagens conhecidos da nossa história se encontram nessa trama que tem como protagonistas duas mulheres fortes, poderosas e muito à frente do seu tempo: Maria Tangará e Joaquina de Pompéu.
A história começa com uma briga por amor. Joaquina casa-se com o então noivo de Maria Tangará, a partir daí, a trama se desenrola contando a vida de cada uma dessas mulheres que viveram na cidade de Pitangui no século XVIII e lideraram com punho de ferro suas casas, negócios e vidas.
A história é ambientada no Centro-Oeste mineiro no século XVIII, época em que a escravidão ainda imperava no Brasil. Com punho firme e altas doses de crueldade, conhecemos como se dava o enriquecimento dos senhores e senhoras brancas e simpatizantes da monarquia, através da exploração dos negros no período escravagista que perpetuou no Brasil até o ano de 1888.
Vivendo na Sétima Vila do Ouro, Tangará e Joaquina foram contemporâneas de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Embora a história oficial não retrate o encontro entre os personagens, a licença poética coloca o mártir brasileiro, ainda jovem, em um tórrido romance com Maria Tangará. Após a meteórica paixão, o jovem mascate se junta aos inconfidentes e é morto no Rio de Janeiro em 21 de abril de 1792.
A partir daí, Tangará se vê no centro de uma disputa para conseguir dar um enterro digno ao mártir. Nasce a lenda de que o crânio de Tiradentes, que desapareceu do poste onde estava exposto em Vila Rica após sua execução, está enterrado no Centro-Oeste de Minas.
Embora “Perfume de Sangue – A disputa pelo crânio de Tiradentes” carregue o nome do mártir no título, a obra retrata muito mais a vida de duas das mais influentes mulheres escravocratas de Minas Gerais do que de fato da vida do inconfidente. Tiradentes tem breves passagens pela narrativa, embora todas muito fortes, intensas e significativas, mas todo o protagonismo é feminino.
O autor conseguiu me fisgar com a trama e me prender no enredo, mas, em alguns trechos senti a leitura um pouco arrastada pelo excesso de detalhes e descrições. Me incomodou também a retratação da mulher de forma excessivamente sexualizada e a busca pela eterna juventude. Senti falta do feminino ser tratado de forma mais natural, com o amadurecimento da pele, do corpo, dos desejos e das paixões. São detalhes que podem ter sido inseridos na trama de forma proposital pelo autor, nada que tire o brilho da obra.