Torto Arado é o 3º livro do autor baiano, Itamar Vieira Júnior, que nos apresenta a história de uma família negra que vive no sertão baiano no período pós-escravagista e enfrenta muitas dificuldades para sobreviver em um Brasil injusto e racista.
A trama traz à tona temas como a servidão e exploração do povo negro, a seca, o latifúndio, a opressão às mulheres e a discriminação racial no Brasil de antes, tão semelhante aos dias atuais.
O texto é simples, direto, sutil, por vezes poético. Com uma linguagem que aproxima o leitor dos personagens, o autor te faz sentir as dores e os amores das irmãs Bibiana e Belonísia. A voz feminina se faz ouvir através das memórias das irmãs que veem suas vidas transformadas ao encontrarem uma misteriosa faca escondida numa antiga mala da avó. Um acidente doméstico sela o destino e muda pra sempre a vida das irmãs.
Bibiana e Belonísia são filhas do curandeiro da região, Zeca Chapéu Grande, que é uma espécie de líder da comunidade. O autor explora as crenças religiosas e nos dá uma aula de história brasileira, aquela não é contada nos livros, a história que muitos de nós ignoramos. Todos os personagens enfrentam uma dura realidade de luta com a coragem que vem da ancestralidade. Os orixás e os santos das religiões de matriz africana, tão bem descritos na obra, dançam com o leitor num ritmo de fé musicalidade.
Torto Arado é um grito de resistência de um povo, é a busca da voz feminina pra ser ouvida, da luta por igualdade e sobrevivência. Torto Arado já nasceu clássico. Leitura necessária.
“𝑄𝑢𝑎𝑛𝑑𝑜 𝑑𝑒𝑟𝑎𝑚 𝑎 𝑙𝑖𝑏𝑒𝑟𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑎𝑜𝑠 𝑛𝑒𝑔𝑟𝑜𝑠, 𝑛𝑜𝑠𝑠𝑜 𝑎𝑏𝑎𝑛𝑑𝑜𝑛𝑜 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑖𝑛𝑢𝑜𝑢. 𝑂 𝑝𝑜𝑣𝑜 𝑣𝑎𝑔𝑜𝑢 𝑑𝑒 𝑡𝑒𝑟𝑟𝑎 𝑒𝑚 𝑡𝑒𝑟𝑟𝑎 𝑝𝑒𝑑𝑖𝑛𝑑𝑜 𝑎𝑏𝑟𝑖𝑔𝑜, 𝑝𝑎𝑠𝑠𝑎𝑛𝑑𝑜 𝑓𝑜𝑚𝑒, 𝑠𝑒 𝑠𝑢𝑗𝑒𝑖𝑡𝑎𝑛𝑑𝑜 𝑎 𝑡𝑟𝑎𝑏𝑎𝑙h𝑎𝑟 𝑝𝑜𝑟 𝑛𝑎𝑑𝑎. 𝑆𝑒 𝑠𝑢𝑗𝑒𝑖𝑡𝑎𝑛𝑑𝑜 𝑎 𝑡𝑟𝑎𝑏𝑎𝑙h𝑎𝑟 𝑝𝑜𝑟 𝑚𝑜𝑟𝑎𝑑𝑎. 𝐴 𝑚𝑒𝑠𝑚𝑎 𝑒𝑠𝑐𝑟𝑎𝑣𝑖𝑑ã𝑜 𝑑𝑒 𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 𝑓𝑎𝑛𝑡𝑎𝑠𝑖𝑎𝑑𝑎 𝑑𝑒 𝑙𝑖𝑏𝑒𝑟𝑑𝑎𝑑𝑒. 𝑀𝑎𝑠 𝑞𝑢𝑒 𝑙𝑖𝑏𝑒𝑟𝑑𝑎𝑑𝑒?”
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