Por Laiz Soares: Pobreza de espírito

Publicado por: Redação

Um homem vetou a distribuição de absorventes para meninas e mulheres vulneráveis de nosso país.  Pior do que a situação do que se chama “pobreza menstrual”, situação das meninas que não conseguem ter o mínimo de dignidade, saúde e higiene durante a menstruação, é a pobreza de espírito daqueles que consideram o problema, uma das maiores causas de falta de alunas à escola, como “mimimi”, como disse a deputada federal mineira do PSL Alê Silva, que sugeriu que as meninas usem paninhos. Absorvente é item básico de saúde e higiene tanto quanto a necessidade de se ter papel higiênico nos banheiros das escolas.

A ideia do projeto era ajudar, principalmente, estudantes de baixa renda matriculadas em escolas da rede pública de ensino, mas também mulheres em situação de rua ou de vulnerabilidade social extrema, presidiárias e adolescentes internadas em unidades para cumprimento de medida socioeducativa. O trecho da lei beneficiaria 5,9 milhões de mulheres em todo o país e o Senado já articula uma forma de derrubar o veto e aprovar os itens suprimidos.

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Lutar por um simples absorvente pode parecer algo absurdo, já que é um item tão popular e que pode facilmente ser encontrado em qualquer lugar. Mas, para quem não sabe, a pobreza menstrual é uma realidade em nosso país. Várias meninas e mulheres não tem acesso a absorventes e precisam improvisar. Parece coisa de outro mundo, mas isso acontece o tempo todo em nosso país. Eu tenho dito para as pessoas: você é a favor de ter papel higiênico, sabão e água no banheiro das escolas? Todos respondem que é claro que sim! Pois é, os absorventes são itens de higiene básica, e portanto são itens que garantem a saúde das meninas, reduzindo riscos de infecção e outros problemas.

De acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), no Brasil, 25% das meninas entre 12 e 19 anos deixaram de ir à aula alguma vez por não ter absorventes.  Além disso, com um ciclo menstrual com duração de cinco dias a uma semana, uma menina pode gastar de R$ 15 a R$ 30 por mês, a depender do fluxo,  apenas com absorventes, um gasto alto nas mãos de quem não tem nada ou que luta para conseguir ter o básico para sobreviver.

Em Divinópolis, o projeto “Promoção da Dignidade Menstrual” pautado e defendido pelas nossas únicas duas vereadoras mulheres, Lohanna França e Ana Paula Freitas, visa distribuir absorventes nas escolas públicas da cidade. Mesmo sem o aval do presidente da república, a esperança é que várias cidades adotem essa medida para combater a pobreza menstrual, uma questão de saúde pública e que precisa de atenção. É absurdo observar que ainda existem meninas e mulheres que não conseguem cuidados menstruais.

A grande verdade é que em pleno século 21, ainda temos que brigar e discutir sobre itens básicos. Sobram homens no Congresso e na Câmara de Vereadores, que nem sempre (ou quase nunca) olham para as questões e cuidados com as mulheres e faltam lideranças femininas que representem os nossos direitos, as nossas lutas e as nossas peculiaridades. Vale destacar que, atualmente, a cada 100 homens, apenas 15 no congresso nacional são mulheres, o que mostra a desigualdade de gênero nos espaços de poder e decisão.

É claro que vamos vencer essa luta, afinal já travamos várias batalhas e conquistamos nosso lugar de fala em diversos setores da sociedade. Vemos o exemplo da secretária-geral da OAB/MG, Helena Delamonica, que se candidatou para à presidência da entidade, um espaço de poder que  sempre foi disputada e assumida por homens.  Helena lidera a campanha “Paridade Já”, que luta pela reserva de metade dos cargos do Sistema OAB para as mulheres. Existem outras mulheres como a Helena que querem defender a equidade de gênero, estão lutando pelos direitos das meninas e mulheres e querem combater políticas que não as incluem.

Queremos ter voz, vez e lugar e termos nossa dignidade humana respeitada!

*Laiz Soares é formada em relações internacionais pela PUC Minas e pela Essca na França. Atuou liderando equipes e projetos no setor privado, em ONGs e no Congresso Nacional.

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comentários

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  1. Elimara disse:

    Excelente artigo da brilhante Laiz Soares , parabéns!

  2. José Ferreira disse:

    Sou homem e não imaginava que esse problema fosse tão sério até ver um documentário sobre o tema. É um sofrimento para as mulheres “meninas” e um absurdo a indiferença dos nossos governantes.

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