“Damaris vive em um povoado colombiano à beira mar. Ao perder a mãe ainda criança e presenciar uma tragédia que matou seu amigo, a já sofrida infância pobre da menina torna-se solitária e carregada de luto, remorso e culpa. Criada pelo tio, que nunca conseguiu suprir a necessidade de afeto de Damares, a garota só encontra amor ao casar-se com Rogélio no início da juventude. Mas o que deveria ser a libertação de Damares, torna-se seu calvário, à medida que os anos vão se passando e ela não consegue engravidar. A vida de Damares perde o brilho a cada nova tentativa frustrada de gerar uma criança”.
Ao saber que uma cadela foi morta no vilarejo vizinho e deixou filhotes órfãos, Damares decide adotar uma cachorra. A esposa de Rogélio dá ao filhote o nome da filha que nunca teve e projeta nela a realização da maternidade que sempre almejou, depositando na cachorra todo seu afeto guardado. Em troca, Damares espera que a cachorra retribua com ternura e presença, mas o instinto animal se sobrepõe e a cadela descobre as ruas e passa a fugir repetidamente. Mais uma vez, Damares se vê abandonada, frustrada e sozinha.
A relação com a cachorra desperta os sentimentos mais íntimos e profundos em Damares externalizando os complexos e traumas criados e fortalecidos por uma sociedade na qual a maternidade é quase um selo que legitima a existência de uma mulher. Damaris vive o fardo da mulher que não cumpre o código de conduta social a ela destinado e não consegue ser o que se esperava dela: mãe e esposa.
O livro de Pilar Quintana escancara o lado animalesco do ser humano, movido por suas trajetórias construídas acerca de frustrações, julgamentos e traumas não resolvidos. É uma obra curta, de leitura rápida, narrativa fluida, mas com uma profundidade assustadoramente humana e real.
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