URGENTE – EXCLUSIVO DIVINEWS: Sismólogo da USP explica sobre prováveis causas dos sucessivos terremotos de baixa intensidade que ocorrem em Divinópolis; Foram sete abalos registrados

Publicado por: Redação

Os tremores de terra registrados nos últimos cinco dias em Divinópolis têm causado preocupações e gerado muitas dúvidas e mesmo temor na população. Ao todo o Centro de Sismologia da Universidade de São Pulo (USP) já soma sete abalos sísmicos. Porém, Apesar do excesso de tremores em tão pouco tempo, nenhuma ocorrência de avaria de imóveis ou danos físicos foram registrados – Em entrevista exclusiva ao Divinews, *Bruno de Barros Colaço, que é bacharel em Geofísica com mestrado em Sismologia e experiência em geociência, e atualmente é sismólogo do Centro de Sismologia da Universidade, explicou os prováveis motivos para os terremotos de baixa intensidade que estão ocorrendo em Divinópolis.

Repórter Divinews: Foram sete tremores sismicos em cinco dias. Há uma explicação para isso?

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Bruno Collaço: Minas Gerais é mais suscetível a ter tremores de terra no contexto histórico do Brasil. Na verdade a região sudeste inteira tem algum histórico como interior de São Paulo, Minas Gerais… tem algum histórico de tremores, apesar de que isso pode acontecer em qualquer parte do pais, mas estatisticamente tem acontecido nessa região. Não especificamente nessa cidade porque não tem um histórico muito grande de tremores, mas como eu disse pode acontecer em qualquer parte do país. E as vezes, quando acontece um tremor de terra, às vezes, é seguido de alguns outros.  As vezes acontece um pouquinho maior e dá gatilho para uma sequência de tremores da mesma magnitude. Isso não é o mais comum de acontecer, mas não é tão raro também.

Repórter Divinews: Se ouvia muito antigamente nas escolas que terremotos só aconteciam nas bordas das placas tectônicas. O que explica Minas Gerais ter essa quantidade significativa de terremotos?

Bruno Collaço: A crosta terrestre é totalmente fraturada, tem lugares que tem falhas e fraturas e como você mesmo disse a maioria dos tremores, os mais importantes de maiores magnitudes acontecem nas bordas das placas. O Brasil está no centro da placa sul-americana, mas ele também está sendo apertado, comprimido por outras duas placas: a placa de Nazca que está do lado do Chile e a placa da África que está do outro lado do Brasil. Estas duas placas comprimem a placa sul-americana onde o Brasil está inserido.Essa força de compressão se propaga por toda a crosta e, alguma hora as fraturas que estão nesta crosta podem se movimentar ou então as rochas podem se romper. Tendo um rompimento de rocha, tem-se uma nova falha e acontecem os tremores.

Repórter Divinews: O excesso de chuva que caiu na região por quase 10,12 dias praticamente pode ter influenciado? É um fator que influencia nesses abalos?

Bruno Collaço: Sim, não dá para afirmar, mas sim, pode ter uma relação. Porquê? Como disse, a crosta terrestre é fraturada então tem lugares que tem algumas falhas, algumas fraturas. Isso daí já existe há milhares, milhões de anos. Quando você tem uma sequência de chuva por um longo período, essa água vai percolar a terra e pode vir a preencher essas fraturas e pode aumentar a quantidade de água nos poros da rocha. Isso vai fazer com que facilite a mobilidade dessas falhas. Então a falha é pré existente, já estava lá e com a percolação da água, aumentando a água nos poros das rochas facilita essa mobilidade, então pode acontecer uma movimentação da falha no interior da terra e pode gerar os tremores. Isso é uma explicação possível, mas muito difícil de ser comprovada porque precisaria de um estudo mais detalhado.

Repórter Divinews: Houve um questionamento levantado inclusive pela população através de grupos de WhatsApp que próximo ao epicentro que foi registrado no site existe uma empresa de detonação de rochas e  já atua nessa região há anos e anos e, quando aconteceu o primeiro tremor inclusive, acharam que fosse uma detonação de rocha na região.Até surgiu a informação de queda de torre, de explosão de transformador, mas tudo indicava que fosse dessa empresa. Essas detonações durante anos e anos naquela região também é um fator que pode influenciar nesses tremores?

Bruno Collaço: Ação de desmontes e da própria mineração acontecem todos os dias no Brasil inteiro e é muito difícil surgirem problemas como uma sequência de tremores e tudo mais. Não é impossível, não dá para descartar essa hipótese completamente,mas o mais normal é que não aconteça nada.O mais normal é que ação de desmonte não gere nenhuma atividade anormal induzida. Mas poderia ser também uma explicação.

Repórter Divinews: Outra questão também levantada é de uma usina que também tem ali na região que até precisou abrir as comportas devido ao volume de águas. No momento do tremor acharam até que a usina tinha estourado.  Esse movimento de águas, o  excesso ali na superfície pode também ser um fator de influência ou não?

Bruno Collaço:  Hidrelétricas quando tem ligação com uma barragem muito grande até tem uma lei no Brasil que é preciso monitorar a densidade durante anos e fazer um relatório mensalmente.  Então os grandes reservatórios de hidrelétricas podem gerar também tremores porque, por exemplo, temos um campo aberto e agora tem 50 metros de água para cima. Isso muda completamente os esforços dessa área só que não o é comum.  A grande maioria de reservatórios de hidrelétricas de represa não geram tremores, algumas delas geram mas é uma minoria muito pequena. Quando isso acontece não é de uma hora para outra. Não é porque choveu semana passada e aumentou o volume da água que vai gerar tremores agora. Demora meses pode demorar anos. Quando você não tem a hidrelétrica, por exemplo, e você enche a represa, demora cerca de três a cinco anos para gerar algum tremor. Não é de uma hora pra outra.

Repórter Divinews: Então podemos dizer com base em todas essas especulações da população que, o mais provável seria um fator natural, comum de se acontecer?  E até mesmo essa quantidade repetitiva seria algo comum?

Bruno Collaço: Não é raro. Essa magnitude também, a maior registrada perto de 3.0, 2.0 é muito pequeno até em termos de Brasil. Então é muito difícil que esses tremores gerem algo mais sério, apesar do susto é claro. As pessoas não estão acostumadas, houve uma sequência e a quantidade também aumenta a insegurança, o jeito que as pessoas percebem, mas é muito difícil de ter algum problema a não ser que sejam construções muitíssimo precárias, mesmo assim ela teria de estar muito perto de onde esta acontecendo esse tremor.Casas, construções seriam muito difíceis de serem afetadas com tremores dessa magnitude ai.

Repórter Divinews: Percebe-se que a magnitude dos tremores foram decaindo. Isso mostra que a atividade está diminuindo?

Bruno Collaço: Isso mostra que a atividade esta diminuindo, mas não da pra saber se ela vai parar daqui um dia, uma semana ou um mês. Tudo na sismologia é meio impossível de prever.

Repórter Divinews: Mas tem a possibilidade de acontecer um tremor mais forte, ou não acontecer nenhum ou continuar acontecendo tremores mais brandos?

Bruno Collaço: Exatamente! Pode acontecer um maior, pode não acontecer mais nenhum. Essa ciência é muito difícil de prever, então qualquer coisa que eu falasse aqui seria um chute.

Repórter Divinews: Falando agora um pouco sobre o Centro de Sismologia, quando vocês recebem essas informações acontece algum estudo específico? Quando acontece uma sequência como essa existe alguma equipe que vai in loco para estudar? Até porque a Prefeitura entrou em contato com a USP para tentar entender o que está acontecendo. É só a identificação do tremor?

Bruno Collaço: Geralmente, como disse, os sismos acontecem em qualquer parte do Brasil e não teríamos condições de atender a todas as ocorrências. Todas as semanas acontecem tremores de magnitude 2.0, 3.0 (na Escala Richter), mas a maior chance é de acontecer em locais em que as pessoas nem ficam sabendo. Mas quando acontece em lugares mais habitados, como é o caso de Divinópolis, uma cidade maior, as pessoas entram mais em contato com a gente, ficam mais sensibilizadas até pela sequência de tremores que tem acontecido aí. Se isso persiste por alguns dias, algumas semanas tem às vezes um acordo entre a Prefeitura e o Centro de Sismologia e instalamos algumas estações na região para fazer um estudo mais detalhado. Isso já aconteceu por exemplo na cidade de Taquaritinga aqui em São Paulo, já aconteceu perto de Ribeirão Preto em São Paulo também, já aconteceu no Rio Grande do Sul. Em locais que apresentam uma atividade mais constante e que perdure por alguns dias, o Centro de Sismologia da USP ou a Universidade de Brasília realmente instalam algumas estações mais perto para serem feitos estudos mais detalhados.

Repórter Divinews: Tem alguma informação que o senhor acha importante destacar?

Bruno Collaço: É pedir, informar, orientar de algum jeito para que as pessoas entrem no site na ferramenta do “Sentiu ai?” porque é muito importante pra gente dar sequência a esse estudo. é muito importante que as pessoas continuem reportando os casos.

 

 

Por: Geraldo Passos, como editor do site,  levantamento de pauta e direcionamento. Participação especial de Diego Henriques que é jornalista, ávido por matérias investigativas. Já atuou em diversos veículo de comunicação em Divinópolis, entre sites, jornais e emissoras de rádio. É repórter free lancer do Divinews de pautas especiais.

 

*É bacharel em Geofísica (2008) e possui mestrado em Sismologia pelo IAG-USP (2014). Atualmente é sismólogo do Centro de Sismologia da USP. Tem experiência na área de Geociências, com ênfase em Sismologia, atuando principalmente nos seguintes temas: monitoramento sismológico, curadoria de dados científicos, controle de qualidade, análise de sistemas GNU/Linux, programação, redes sismológicas, tomografia de ondas de superfície e tomografia de ruído ambiental.

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comentários

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  1. Anônimo disse:

    Fala do chefe do executivo municipal:
    Aqui tem prefeito kkkkk

  2. Gabriel disse:

    Muito boa a matéria. Parabéns ao jornal por trazer um especialista pra falar do assunto

  3. Jairo Gomes Viana disse:

    Sinceramente não percebi nada, por mais fracos que sejam os tremores pode acontecer de um ou mais vidros de uma janela trincar. A casa onde moro sente os efeitos até de um caminhão carregado que passa, uma vez que o alicerce está a mais de 2 metros em relação ao nível da rua. A menor sinal de tremor de terra, é preciso ficar atento, principalmente em tempos chuvosos, para que mora em áreas de encostas.

  4. Anônimo disse:

    Coloca o resto da fala do geofísico, por favor…

    1. Divinews disse:

      foi colocada

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