Exclusivo: Bairro ‘Progresso’ é ‘retrocesso’ para mais de 150 famílias que sonharam com casa própria e levaram calote; Prefeitura de Divinópolis se omite com questões ambientais do local

Dezenas de compradores, cerca de 150, que adquiriram lotes em um empreendimento imobiliário, em Divinópolis, estão revoltados por terem sido ludibriados por uma empresa que se propôs a criar um bairro planejado, ‘Bairro Progresso’, que de fato se tornou um retrocesso na vida deles, um verdadeiro pesadelo. Por que vendeu e não entregou e pode não entregar, mas se o fizer será com anos e anos de atraso, já que a empresa que iniciou a comercialização dos lotes sumiu do mapa – E mesmo os que conseguirem obter a posse oficial dos terrenos, pela instabilidade geológica da área não é garantia de que consigam realizar qualquer tipo de construção em cima de um morro que a chuva está dissolvendo – É mesmo questionável como a Prefeitura concedeu o alvará de construção, em uma área de preservação ambiental e instável geologicamente.

Os lotes do residencial Progresso começaram a ser vendidos em 2019. O local fica próximo ao bairro Maria Helena, em Divinópolis, que sofre com a lama que desce de lá. Na época, empresa Primus Urbanismo anunciou que o local contaria com projeto de reflorestamento, rede de água e esgoto, iluminação, área verde preservada, além de praças de convivência. Dos 345 lotes, a partir de 200m², foram comercializados aproximadamente 160.

A empresa prometeu aos compradores que entregaria os lotes em alguns meses, já que a terraplanagem e a drenagem do terreno já estavam completas. Faltava a ligação da rede de água, esgoto e eletricidade, além da pavimentação e obras complementares. Mês a mês, as entregas foram sendo adiadas. E até hoje, três anos depois, nenhum comprador recebeu oficialmente o lote.

Um dos compradores, figura bastante conhecida em Divinópolis, mas que não será identificada pelo Divinews, adquiriu dois lotes, fez o pagamento, mas resolveu cancelar a compra devido à demora da empresa em entregar o empreendimento imobiliário. O caso acabou indo parar na justiça. A Primus Urbanismo foi obrigada a devolver o dinheiro pago pelo cliente, que até hoje está recebendo parceladamente.

O Divinews esteve no local no início desta semana para averiguar in loco a denúncia recebida sobre o perigo que representa o local para bairro Maria Helena. O que foi visto foi um cenário de quase completo abandono. Algumas poucas ruas que estrategicamente na época das vendas chegaram a ser pavimentadas agora estão cobertas por lama e pela terra que foi arrastada pelas chuvas.

O terreno está visivelmente instável e cheio de buracos. O Divinews esteve no bairro Progresso acompanhado de um engenheiro ambientalista, que avaliou a área e foi enfático ao afirmar que o empreendimento jamais deveria ter sido liberado pela prefeitura e pelos órgãos de controle do meio ambiente. E há inúmeros fatores que justificam isso.

Além do terreno estar em uma área instável, cheia de morros com risco geológico para as casas que seriam construídas no local, uma grande área verde teve que ser devastada para dar espaço aos lotes. Não se sabe como a foi conseguido a autorização para que a obra acontecesse. Ao que tudo indica, quando o empreendimento foi autorizado, a prefeitura errou ao permitir que um loteamento fosse construído em um terreno com tais condições. E a gestão atual, mesmo não tendo participado do licenciamento ambiental, não faz nada para tentar corrigir a situação. Na opinião do especialista ouvido pelo Divinews, o empreendimento deveria ter sido interditado pelo município.

Fomos atrás de respostas e procuramos a Primus Empreendimentos. No telefone 0800 disponibilizado aos compradores, a atendente disse que o número agora pertence a uma outra empresa, sem nenhuma ligação com o loteamento Progresso. Conseguimos um outro telefone que seria da Primus, mas fomos atendidos por uma imobiliária que, por sua vez, informou um outro telefone que seria da Primus, porém, a ligação foi atendida por uma empresa chamada Participar, que seria o holding do grupo. A informação que nos passaram é que o empreendimento Progresso teria sido vendido para outra empresa, a Vitória da União. Mas no site do grupo Vitória da União não aparece nenhuma menção ao empreendimento em Divinópolis, ‘Bairro Progresso’.

No momento da visita do Divinews ao empreendimento oito operários estavam trabalhando no local e havia um trator. Eles contaram que trabalham para a empresa que comprou o empreendimento, a ‘Vitória União’  e só agora, quase quatro anos após a venda dos lotes, é que está sendo feito o esgotamento sanitário e de água da chuva. Os operários dizem que após esta etapa será feita a drenagem, terraplanagem e o restante da pavimentação do bairro, que ainda não tem nenhuma previsão de ser concluído.

Enquanto isso, quem comprou os lotes, em 2019, está completamente frustrado. O caso acabou por desfazer os planos de quem sonhou em se mudar para o local. Muitos compradores já procuraram a justiça para tentar reaver o dinheiro investido, sem saber se vão conseguir, já que a Primus Empreendimento sumiu do mapa. Além do possível prejuízo, o bairro Progresso custou uma grande área verde, que foi destruída. Fora as outras irregularidades ambientais. E enquanto isso, a Prefeitura de Divinópolis não faz absolutamente nada para punir os responsáveis, nem minimizar os problemas.

Mesmo que a Prefeitura tenha cassado ou não concedido o alvará para construção, e ainda que o Ministério Público de Meio Ambiente dentro de suas atribuições tenha embargado o empreendimento, é fato que mesmo com risco, as obras continuam, super devagar, mas, continuam.

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