Por que alguns talentosos desistem

Publicado por: Redação

Revendo minhas lembranças, recordei o mês de janeiro de 2010, data da morte de J.D. Salinger, autor do mais importante romance que li em minha vida: O Apanhador no Campo de Centeio. Era um romance tão lindo, que acho que dele recebi muitas influências no modo de pensar, de ver o mundo, conviver com as pessoas, entender amores e suportar paixões mal resolvidas.

Foi um livro que devorei nos meus 19 anos, exatamente quando eu estava no rito de passagem entre a adolescência e a vida adulta. No entanto, o que tem a ver a morte de um escritor com esta coluna? Simples: escrever para o Divinews algumas vezes é fazer como os grandes clubes de futebol europeu: vai direto ao ponto, em velocidade e conclui um gol assim que possível.

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Outras vezes é como um time de várzea naquelas tardes quentes de sábado: cisca daqui pra lá, valoriza as firulas e se diverte mais com o jogo do que com o gol. Estive pensando no que vem acontecendo ao nosso redor e, como Salinger, vejo e acompanho muitos talentos pararem de exercerem suas atividades, sejam políticas, empresariais, literárias ou diversas profissões.

Alguns destes talentosos cidadãos, além de “pendurarem as chuteiras” isolam-se do mundo ou pior: se trancam por dentro ficando mortos em plena vida. Há quem diga que estes talentosos personagens nas nossas vidas largam tudo, porque nada mais têm a dizer ou ouvidos que os ouçam, olhos que os leiam e por aí vai.

Uma grande pena tudo isso! O que será que leva pessoas, que fazem parte da nossa história recente a abandonarem seus trabalhos, seus discursos, ensinamentos ou a simples companhia?

No campo comercial pessoas extremamente habilidosas, inteligentes e participativas abandonam o que fazem para se tornarem “coach” ou palestrantes para uma plateia de ávidos interessados em mensagens de autoajuda. Cursos, seminários, palestras, vídeos no YouTube e livros ligados ao assunto estão dominando as preferências e as sugestões se tornam regras para a vida de muita gente. O que isso está nos dizendo? Na verdade ainda não sei, mas no mundo tecnológico, onde as redes sociais começam a dominar mais a vida das pessoas, podemos estar perdendo a sensibilidade do que nos domina e deixamos de ser “clientes, consumidores, usuários” do que a globalização nos proporcionou para nos transformarmos em “produtos, objetos, dados cadastrais e estatísticos”, numa rede altamente dominadora.

Não vejo ninguém querendo ler Voltaire, o mago da literatura que encanta leitores há séculos, mas devoram livros de Paulo Vieira que nos fala sobre tudo o que ignoramos, por tanto tempo, que nos faziam mais humanos! Por favor, não tenho nada contra um profissional que mostra caminhos para acertarmos nossas vidas. Mas são lições que já estavam registradas e que só agora sentimos a importância de nos tornarmos leitores e conhecedores de talentos ainda em atividade. Algumas talentosas personalidades nas nossas vidas desistem, quando se percebem apenas com o talento que a natureza lhes deu.

Por que um pintor ficaria horas expondo sua arte numa tela, se o photoshop falseia tão bem a realidade, que se torna uma arte literalmente “artificial”? O que adiantaria Mozart, Bethoven, John Lennon, Pixinguinha fazerem músicas para quem se diverte com funks absurdos que alguns teimam chamar de música?

Como disseram em comentários nas redes, “o que adianta valorizarmos atividades medíocres” como arte, enquanto aceitamos as imposições de um programa como o do “Faustão”? Acho que quero apenas dizer, que mesmo exposto a opiniões contrárias, esta coluna tem um pouco mais de compromisso com as pessoas do que com “likes” disfarçados que nunca se sabe de onde veio… Talvez tenha vindo do inferno!

 

Por: Leonardo Junqueira

 

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