A história é contada por um narrador, Rodrigo S.M. que é apresentado como um escritor e, de certa forma, torna-se um personagem da narrativa, já que não apenas conta a história, mas levanta questões existenciais levando o leitor a refletir.
A protagonista é a jovem Macabéa, nordestina que busca oportunidades no Rio de Janeiro, onde consegue um emprego como datilógrafa. Como alguém que apenas passa pela vida, sem viver, ela se reveza entre o trabalho e a pensão que divide com outras duas migrantes. Uma vida sem amigos, sem brilho, sem paixões, assim é a existência de Macabéa, desprovida de emoção ou propósito.
Nem o romance tedioso e sem graça que se inicia com o oportunista Olímpico, também nordestino migrante no Rio de Janeiro, é capaz de trazer mais emoção à sua vida.
Após perder o namorado para uma colega de trabalho, a datilógrafa visita uma cartomante e aí a trama passa por uma reviravolta e, pela primeira vez, sua vida tediosa encontra alguma emoção. A possível chegada de um novo amor, profetizada pela cartomante, enche de esperança o medíocre existir de Macabéa.
O trágico final de “A hora da estrela” representa o desfecho perfeito, o destino dramático para a vida com tão pouca consciência de si que viveu Macabéa.
Como a maioria dos clássicos, não é uma leitura fácil e fluida. As questões tratadas por Clarice Lispector são muito subjetivas e íntimas e o leitor por vezes se perde no tédio da narrativa. A hora da estrela é uma obra que tem uma profundidade que exige concentração e só reforça a genialidade da escritora.
Finalizo essa resenha com uma frase do escritor/narrador, que desnuda toda aflição e angústia tratada no livro.
“Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias”.