Mulher forte, justiceira, de estopim curto e autêntica. Esses foram alguns dos adjetivos que o Jornal Agora usou para descrever a biomédica presa esta semana depois da morte de uma paciente durante um procedimento estético realizado por ela de forma clandestina. O texto em homenagem à biomédica está imortalizado em um livro lançado em setembro do ano passado, ou seja, 2022. Apesar dos inúmeros problemas que já a rodeavam, na época, a publicação ignorou a gravidade da situação e enalteceu a profissional que hoje está atrás das grades.
A biomédica, descrita pelo Agora como “mulher notável”, foi uma das madrinhas do evento promovido no ano passado. Na época, uma votação foi feita para escolher profissionais de destaque em diferentes áreas. A biomédica não venceu, mas, de forma estratégica, foi escolhida para estar no seleto grupo de 49 mulheres que tiveram as biografias contadas no livro.
Mesmo sem votos suficientes para receber o troféu, o jornal escolheu a biomédica para ser madrinha do evento. Nessa categoria, os profissionais foram “convidados” a apadrinhar o evento, de forma financeira, e em troca disso receberam destaque no livro “Mulher Destaque”. A diretoria do jornal afirmou, na época, que essa “foi uma forma de eternizar as histórias de mulheres que se destacam em Divinópolis por suas trajetórias de sucesso e personalidades que inspiram”.
Mas a realidade é que, já naquela época, em setembro do ano passado, havia denúncias suficientes e problemas de sobra para saber que a biomédica era uma “mulher notável” de forma bastante negativa. Apenas dois meses antes, em Julho de 2022, ela havia acabado de ser manchete em todo o país depois que um modelo de Belo Horizonte quase perdeu a boca após um procedimento feito por ela de forma errada. A suspeita é que a profissional tenha utilizado um produto proibido, o PMMA, polimetilmetacrilato. Com a arrogância de sempre, ela foi a público e se esquivou de qualquer responsabilidade, jogando toda a culpa em cima da vítima, que até hoje carrega sequelas deixadas pelo trabalho dela.
E enquanto a vítima passava por inúmeras sessões de um doloroso tratamento para remover a carne necrosada nos lábios, a biomédica tomava champanhe e posava sorridente para as fotos enquanto era homenageada como madrinha “Mulher Destaque” no evento do jornal, que fingiu não saber do que estava acontecendo nos bastidores. Para recompensar o patrocínio a profissional ganhou um capítulo inteiro no livro, contando a história dela.
No texto, é possível perceber uma clara tentativa de humanizar a trajetória profissional, além de justificar os barracos e chiliques protagonizados por ela, chamados na publicação de “personalidade forte”. Em um trecho, ela disse: “Nem Jesus agradou a todos, então quem sou eu para querer isso?”.
O jornal disse que a biomédica é justa, do tipo que não se esconde dos erros e que está pronta para dar a cara a tapa caso eles ocorram. Nem parece que estão falando da mesma pessoa que, na semana passada, disse não entender o porquê de estar sendo presa depois da confirmação da morte da paciente que ela operava, de forma clandestina.
Após a tragédia, o Divinews entrou em contato com o jornal responsável pela homenagem à biomédica. A direção disse que no ano passado ela chegou a ser indicada para o troféu, mas na votação popular não recebeu votos suficientes para ser vencedora. E, por isso, foi convidada a ser uma das madrinhas do evento. O jornal disse ainda que, este ano, a profissional nem sequer foi indicada para votação.
Agora, o fato é que, mais do que nunca, é notável que o dinheiro, o poder e o status sempre falaram mais alto. E, justamente por isso, a biomédica em questão sempre se achou acima de tudo e de todos, intocável, capaz de fazer o que quisesse, sem que fosse punida pelos erros. E em um dos últimos trechos do capítulo sobre ela no livro soa ainda mais irônico, diante do que aconteceu. O texto diz que “hoje, publicamente, é possível perceber que o trabalho que ela desenvolve entrega muito mais que rostos e corpos bonitos. Entrega autoestima, cuidado e amor próprio. Tudo que ela sempre fez questão de frisar, e o resultado disso, é um verdadeiro time de pacientes gratos aos resultados alcançados”.
Depois da morte da paciente, fica a pergunta: e Agora?