Combate ao tráfico no Complexo do Alemão completa um ano sem diminuir violência

Publicado por: suporte

COMBATE AO TRÁFICO

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Fotos: Eduardo Santorini

 
  

O "Caveirão" é o veículo de segurança usado pela PM nas invasões ao Complexo do Alemão

 

Um ano após o início da operação de combate ao tráfico nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio, houve aumento no número de mortos, prisões e apreensões de armas na região. Mas esses índices não repercutiram diretamente na diminuição dos índices de violência contra o cidadão, que registrou aumento em crimes como assalto a pedestre, roubo a comércio e número de feridos por causas intencionais.

Embora não estejam disponíveis dados oficiais do período de fevereiro a abril deste ano, os números registrados entre janeiro e dezembro de 2007 demonstram a escalada da violência na região da Penha e do Alemão, que formam um conjunto contínuo de favelas ao longo da Avenida Brasil, com cerca de 150 mil moradores. As estatísticas são referentes à Área Integrada de Segurança Pública 16, sob responsabilidade do 16o Batalhão da Polícia Militar, e abrange outras comunidades.

Os autos de resistência – como são chamadas as mortes de suspeitos em confrontos com a polícia – aumentaram de 63, em 2006, para 171, em 2007, quase três vezes mais. Como resultado desses confrontos violentos, também aumentaram os casos de policiais mortos, de 1 em 2006 para 7 no ano passado. Com isso, foram 63 supostos bandidos mortos para cada policial assassinado em 2006 e 24 suspeitos mortos para cada policial morto em 2007.

No mesmo período, o número de pessoas presas mais que dobrou, saindo de 234 para 500, e a quantidade de feridos – classificados como “lesão corporal dolosa” – pulou de 1.382 para 1.605, aumento de 16%. As apreensões de armas também aumentaram: foram 631 no ano passado, contra 538 em 2006.

Atividade policial

Apesar do aumento da atividade policial na região, houve crescimento nos assaltos a pedestres, com 2.836 casos em 2007, contra 2.014 em 2006, e nos roubos a comércio: 206 em 2007, contra 153 em 2006. O roubo a residências também cresceu, subindo de 21 para 23 casos, assim como o número de pessoas desaparecidas, com aumento de 125 para 139.

As operações pontuais nos dois complexos, considerados então como a “fortaleza do tráfico” no Rio, começaram em 2 de maio de 2007, com a ocupação por efetivo do Batalhão de Operações Especiais (Bope), para capturar os responsáveis pela morte de dois PMs que estavam de guarda em área próxima. Logo em seguida, a comunidade do Alemão foi literalmente cercada por contingentes da Força Nacional de Segurança, que ficam entrincheirados nas principais entradas das favelas.

O auge da ocupação aconteceu no dia 27 de junho do ano passado, quando 19 supostos criminosos morreram em confronto com as forças policiais, o que motivou acusações por entidades de direitos humanos de execuções e gerou dois laudos periciais opostos. Recentemente, outra escalada da violência deixou 16 mortos em uma semana, durante o mês de abril.

Política equivocada

Para a socióloga Julita Lemgruber, diretora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes (Cesec/Ucam), no Rio de Janeiro, tanto o elevado número de mortes de suspeitos, quanto o de policiais, se deve a uma política de segurança equivocada. “Temos que refletir sobre qual política de segurança nós queremos. Uma política do confronto, com incursões violentas e muitas mortes? Será que para vivermos em segurança é preciso uma polícia tão violenta? Eu acho que não. Isso pode ser pensado de uma outra maneira. Já houve momentos no Rio de Janeiro em que se matou muito menos e isso não quer dizer que as pessoas vivessem com menos segurança”, afirma Júlia Lemgruber.

Segundo ela, no ano passado a polícia fluminense matou 1.330 pessoas. Além do nível de letalidade, ela também critica a relação que a polícia estabelece com a comunidade durante as incursões nas favelas, seguidamente objeto de reclamações dos moradores sobre arbitrariedades e violência gratuita. “Segurança pública, para dar certo, tem que haver confiança na polícia, mas não é isso que acontece. Essas populações são desrespeitadas e violentadas pelos policiais. Então se gera uma situação em que as pessoas não respeitam nem confiam na polícia e acabam confiando mais no traficante”, diz a socióloga.

O secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, reconhece que as ações da polícia não vão conseguir terminar com a violência nas comunidades, mas diz que é a única forma possível de evitar que a criminalidade aumente. “O que nós estamos fazendo é reprimir, fazer com que essa violência não se alastre. É não deixar que as metralhadoras ponto 30 e ponto 50 [antiaéreas] que nós pegamos venham parar em outros lugares do Rio de Janeiro. E como nós não temos policiais suficientes para colocar em todos os locais do estado, estamos agindo com critério e investigação”, assegura José Mariano.

 

 

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