Na obra “Menino Mamba Negra”, a escritora somali Nadifa Mohamed, narra a história da longa caminhada de Jama, um garoto de 10 anos, passando pela África, Oriente Médio até chegar à Europa em busca de liberdade. A trama é baseada na história do pai da escritora e sua jornada nas décadas de 1930 e 1940 no Iêmen, durante o período colonial.
Devo adiantar que não é uma leitura fácil. A narrativa é densa, os capítulos são longos e os períodos extensos, o que torna a leitura um pouco arrastada. A diáspora do garoto somali imprime uma carga sombria à narrativa, embora a escrita seja permeada por um lirismo envolvente. Outra característica da autora é manter expressões em dialetos somalis sem tradução, proporcionando uma experiência de imersão à cultura somali e agregando momentos poéticos ao romance.
Acompanhando Jama em sua peregrinação, conhecemos uma versão pouco contada da história: o impacto que a Segunda Guerra e as colônias europeias causaram em países do continente africano e em seu povo. Com uma carga dramática intensa e algumas cenas de violência narradas de forma explícita, o livro desperta no leitor sensações angustiantes, sobretudo, por saber que muito do que compõe a narrativa é um retrato da realidade sofrida do povo negro e reflete no abismo social e racial dos dias atuais.
A cada capítulo somos apresentados a novos personagens que surgem na vida de Jama, o acompanham na sua jornada e se perdem pelo caminho. É uma história de encontros, perdas, despedidas e recomeços. Uma jornada de sobrevivência, mas, sobretudo, de amizade, resiliência e esperança.
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