Artigo: “O buraco é mais embaixo”

Enquanto transitava pelas ruas de Divinópolis algo me chamou atenção. Os inúmeros buracos de umas das principais vias da cidade, a Rio da Janeiro, haviam sido tapados com o que me parecia ser uma mistura de terra e pequenas pedras. Seria cômico, se não fosse trágico. Não sei se isso foi feito por iniciativa do poder público ou por desespero dos moradores, uma vez que ali os veículos praticamente não conseguiam transitar.

O autor do ato, que ainda não consegui verificar, tem menos importância do que o aprendizado que podemos tirar desse fato.

Novas chuvas vieram e talvez eu nem precisasse dizer o que aconteceu: a “maquiagem” colocada nos buracos se foi. O problema estava ali, novamente exposto. Se a intenção foi enganar os motoristas, dando a falsa sensação de resolução do caos ou se simplesmente foi feito aquilo que se podia, não sei dizer exatamente. O que concluo é que  há entre nós aqueles que preferem esconder os problemas, negá-los, ou tentar resolvê-los da maneira mais simples e menos eficaz possível.

O diagnóstico de buracos nas nossas ruas traz algumas conclusões, a depender de muitas variáveis: excesso de peso dos veículos, má qualidade do material utilizado ou  talvez o prazo da vida útil do asfalto apenas esteja no fim. Mas independente de qualquer causa: colocar terra tem efeito vazio. Vazio como fica o buraco na primeira chuva fina.

Assim como as ruas de nossas cidade, nossa sociedade está repleta de buracos cobertos por terras. São problemas complexos, profundos, estruturais, que algumas pessoas acreditam solucionar com frases de efeito. Aliás, há aqueles que são capazes de apontar soluções mágicas para problemas dos quais sequer compreendem que são parte.

Na semana passada, além de cair nos buracos das ruas da cidade, também fui surpreendida por um vídeo divulgado no Instagram de uma participação do prefeito em podcast local. Eu fiquei realmente feliz ao ouvir da boca de um político de Divinópolis que” mulheres não deveriam votar em homens machistas”. Não só concordo, como o  parabenizo pela frase, da qual não poderia mudar uma vírgula. Mas quero propor que  reflitam comigo se essa frase, desacompanhada de ações que de fato combatam o machismo,  não é a mesma coisa que tapar buracos com terra.

Aproveito então  para deixar aqui  algumas atitudes que, para além das falas, todos os homens podem colocar em prática para termos uma sociedade mais justa: não taxar mulheres de loucas e perturbadas,  respeitá-las, ouvi-las, não sexualizar seus corpos em vídeos que expõe seus corpos como pedaços de carnes e  fornecer oportunidade para que elas sejam mães em sua plenitude, oferecendo creches para crianças de 0 a 4 anos, para que suas mães possam trabalhar.

Buracos e problemas sociais são sim problemas muitos diferentes. Mas ambos podem ser solucionados com ações efetivas, de boa qualidade, pensadas a  longo prazo e que saiam do plano da imagem para o plano da longa duração.

Os buracos profundos exigem de nós mais do que a  terra fina que qualquer água corrente leva.

 

Por Laiz Soares